sábado, 7 de março de 2009

Fim proposto

Como já tinha referido, vou anunciar um fim que proponho a esta obra, um que eu gostaria de ver o General dizer. Para tal, recorri a parte da obra de Almada Negreiros chamada A cena do Ódio:

"Ó Horror! Os burgueses de Portugal
têm de pior que os outros
o serem portugueses!
A Terra vive desde que um dia
deixou de ser bola do ar
p'ra ser solar de burgueses.
Houve homens de talento, génios e imperadores.
Precisaram-se de ditadores,
que foram sempre os maiores.
Cansou-se o mundo a estudar
e os sábios morreram velhos
fartos de procurar remédios,
e nunca acharam o remédio de parar.
E inda eu hoje vivo no século XX
a ver desfilar burgueses
trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano,
e a saber que um dia
são vinte e quatro horas de chatice
e cada hora sessenta minutos de tédio
e cada minuto sessenta segundos de spleen!
Ora bolas para os sábios e pensadores!
Ora bolas para todas as épocas e todas as idades!
Bolas pròs homens de todos os tempos,
e prà intrujice da Civilização e da Cultura!
Eu invejo-te a ti, ó coisa que não tens olhos de ver!
Eu queria como tu sentir a beleza de um almoço pontual
e a f'licidade de um jantar cedinho
co'as bestas da família.

Eu queria gostar das revistas e das coisas que não prestam
porque são muitas mais que as boas
e enche-se o tempo mais!
Eu queria, como tu, sentir o bem-estar
que te dá a bestialidade!
Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher,
e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente!
Eu queria, como tu, não saber que os outros não valem nada
p'ra os poder admirar como tu!
Eu queria que a vida fosse tão divinal
como tu a supões, como tu a vives!
Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça
a boiar à tona d'água, à mercê dos ventos,
sem nunca saber que fundo que é o Mar!
Olha para ti!
Se te não vês, concentra-te, procura-te!
Encontrarás primeiro o alfinete
que espetaste na dobra do casaco,
e depois não percas o sítio,
porque estás decerto ao pé do alfinete.
Espeta-te nele para não te perderes de novo,
e agora observa-te!
Não te escarneças! Acomoda-te em sentido!
Não te odeies ainda qu'inda agora começaste!
Enioa-te no teu nojo, mastodonte!
Indigesta-te na palha dessa tua civilização!
Desbesunta te dessa vermência!
Destapa a tua decência, o teu imoral pudor!
Albarda te em senso! Estriba-te em Ser!
Limpa-te do cancro amarelo e podre!
Do lazareto de seres burro!
Desatrela-te do cérebro-carroça!
Desata o nó-cego da vista!
Desilustra-te, descultiva-te, despole-te,
que mais vale ser animal que besta!
Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da
Civilização!
Queria-te antes antropófago porque comias os teus
– talvez o mundo fosse Mundo
e não a retrete que é!"

A relação que eu vejo entre as duas obras:
As palavras a negrito são as que podem ser substituidas pelas palavras que estão entre parêntesis.

"Ó Horror! Os burgueses de Portugal têm de pior que os outros o serem portugueses!"
(Principal Sousa, D. Miguel Forjaz e Beresford)
"Houve homens de talento, génios e imperadores."
(General Gomes Freire)
"Precisaram-se de ditadores, que foram sempre os maiores."
(Beresford)
"E inda eu hoje vivo no século XX a ver desfilar burgueses trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano, e a saber que um dia são vinte e quatro horas de chatice e cada hora sessenta minutos de tédio e cada minuto sessenta segundos de spleen!"
(século XVIII, perseguição, opressão, injustiça)

No resto da obra quando Almada Negreiros inveja tudo aquilo que refere, podemos ver um apelo à paz, à pureza das almas, no sentido em que todos procuram denunciar todos e isso gera um clima de desconfiança que perturba a mente das pessoas. Ele pede para as pessoas se manterem puras e resistirem aos males da sociedade (apesar de todo este "apelo" ser processado de uma maneira extremamente crítica e satírica) "Albarda te em senso! Estriba-te em Ser! Limpa-te do cancro amarelo e podre!" Ele quer que as pessoas tomem uma atitude, que reajam, porque ele pensa que mais vale reagir e ser falado e talvez repreendido por isso do que ser uma "besta" igual a todos os outros corruptos da sociedade.

1 comentário:

  1. Foi uma boa ideia, esta relação entre os dois textos. Embora o Principal Sousa e D.Miguel não sejam propriamente burgueses, como sabes.

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