segunda-feira, 27 de abril de 2009

Diário de Domenico Scarlatti

5 de Abril de 1710


Harmoniosa pauta que guarda sempre os meus segredos,

Hoje, como já tenho feito algumas vezes, fui tocar para Blimunda. Tudo isto para ver se ela se consegue levantar e se se consegue libertar da sua doença tão peculiar... Agora que o Padre Bartolomeu morreu, resta-nos a mim, a Baltasar e a Blimunda dar um futuro à passarola, objecto voador que serviu para nos unir. Eu e a minha música faremos todos os possíveis para que o sonho deste homem tão bondoso seja concretizado. Baltasar e Blimunda ficaram completamente devastados com a notícia. Só espero que isto não faça Blimunda piorar, mas se tivermos sorte ela vai ficar bem, até porque ela acredita piamente na minha música e isso só pode querer dizer algo. Esperemos que tudo corra bem e que ninguém desista deste sonho pois nada faria o Padre Bartolomeu mais contente do que ver o seu sonho concretizado...

domingo, 26 de abril de 2009

Diário de Baltasar

25 de Março de 1710


Querido Diário,

Que bom foi encontrar finalmente um sentido para a minha vida! Creio que se não fosse Blimunda, provavelmente estaria num canto qualquer a arruinar a minha vida... Também tenho de agradecer ao meu grande amigo, o padre Bartolomeu! Se não fosse ele e o seu projecto de construir a passarola, já nem eu iria saber o significado de sonhar! Agradeço-lhe por acreditar em mim e por não se preocupar com o facto de eu ser maneta... que rico homem! Agora mudando drasticamente de tema, tenho pensado dias a fio sobre a construção do Convento já que me vou integrar no conjunto de operários que o vão erguer! O rei para variar não pensa em sensatez, e muito menos no povo! Chega de escravatura! Tudo isto para o Convento estar acabado no dia de aniversário de El-rei? Chega de injustiças! Estão dezenas de pessoas a morrer todos os dias por causa da vontade do rico senhor! Que vergonha! Vou parar de escrever sobre estas coisas não venha a Inquisição qualquer dia ler-me os desabafos!
Minha Blimunda, a única pessoa que consegue que eu fuja disto tudo... a minha cara-metade que tanto tem para me ensinar. Se não fosse ela nem sei bem o que seria de mim...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Convento de Mafra versus Passarola

Lendo esta obra que fala de sonhos e promessas, de um puzzle e de uma obra barroca, ocorreu-me fazer a seguinte ligação: D. João V, o rei sabedor e fazedor de tudo com a maior distinção possível, tal como o Padre Bartolomeu, um homem humilde que se deparava constantemente com os seus princípios, o seu amor à ciência e com as consequências que isso poderia ter, têm ambos uma coisa em comum: o objectivo de criar algo, embora esse algo fosse criado por motivos diferentes. D. João V que tinha a obrigação de dar um descendente ao reino Português prometeu erguer um convento caso isso acontecesse. Convento esse erguido em Mafra, que é o melhor exemplo da arquitectura barroca que temos no nosso país. A razão que o levou a ser construído podemos nomear de conveniente, mas também de obrigatória pois Portugal não se iria "governar" sozinho, e como D. Maria parecia não estar nos seus melhores dias D. João V tinha de tornar este feito numa divindade... e porque não construir um convento que mostrasse o quão divino foi esse feito? E porque não dar um lugar aos que mais perto do divino querem estar?

Significado de convento:
O termo convento, do latim conventus que significa "assembleia", advém originalmente da assembleia romana onde os cidadãos se reuniam para fins administrativos ou de justiça (convéntum jurídicum). Posteriormente passou-se a utilizar com sentido religioso, relativamente ao monasticismo quando, para melhor servir e amar a Deus, os homens se retiravam do mundo, primeiro sozinhos, depois em grupos de monges (comunidades religiosas), para edifícios concebidos para o efeito, os conventos.

Acho que esta definição sublinha de forma adequada as duas interrogações do primeiro parágrafo.

Agora falemos de outra coisa. Uma coisa que não tem bem definição mas que no livro se chama de sonho. Para mim devia chamar-se coisa porque o que está por detrás do construir da passarola não é completamente linear, e pode ter até diversas interpretações. Será que era mesmo só o amor pela ciência? Ou só o desejo de voar? Será que o voar era uma metáfora? Metáfora para o povo? Ou metáfora para a Igreja? Será que o padre queria voar para junto daqueles que ele idolatra? O meu nome de certo que não é Bartolomeu Lourenço de Gusmão portanto não poderei responder a estas perguntas, mas vou continuar a chamar-lhe coisa.

Significado de passarola:

A primeira aeronave conhecida no mundo a efectuar um voo foi baptizada de Passarola, e antecede 74 anos o famoso balão dos Montgolfier. A Passarola era um aeróstato, cujas características técnicas não são actualmente conhecidas na totalidade, inventado por Bartolomeu de Gusmão, padre e cientista português nascido no Brasil colónia, tendo voado no ano de 1709.

Esta era um aeróstato aquecido a ar quente, aquecimento esse que era produzido através de uma fonte de ignição instalada numa barca sob o aparelho. Tecnicamente a passarola devia ter as características dos actuais balões de ar quente.

A minha tradução deste último parágrafo segundo o contexto da obra:

Esta era um aeróstato especial que voava consoante as vontades, vontades essas recolhidas por Blimunda que tinha a ajuda do seu companheiro Baltasar que era o técnico do engenho. Ficcionalmente a passarola representa o amor de Blimunda e Baltasar e é o querer voar, num sentido ficcional da palavra que os mantém unidos.

Ora bem, se compararmos agora estes dois elementos acho que mais facilmente se derrubaria a obra de Johann Friedrich Ludwig do que a obra do Padre de Bartolomeu de Gusmão. E com todo o respeito ao arquitecto, não me refiro a uma envergadura física.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Diário de Blimunda

13 de Janeiro de 1710


Querido Diário,

Cada vez me sinto melhor ao lado de Baltasar. É tão gratificante ver um homem que já sofreu tanto capaz de amar os outros e de se dedicar aos amigos como ele se dedica. Já contei o meu pequeno segredo a Baltasar e hoje quando acordámos ele tirou-me o pão com esperanças de que eu olhasse para ele em jejum e visse o seu interior. Eu recusei-me porque para mim basta amar Baltasar, e esse sentimento é suficiente para eu aceitá-lo tal como ele é. É com ele que partilho as minhas tristezas, alegrias e preocupações da vida. É com ele que somos um ser apenas e é ao lado de Baltasar que quero passar o resto dos meus dias.
Ontem o Padre Bartolomeu falou-nos no seu projecto da passarola e Baltasar mostrou-se muito interessado em ajudá-lo. A minha função será recolher as vontades que farão com que a passarola voe. Esperemos que os meus "poderes" não se tornem obstáculos. Apenas escrevo isto devido às minhas preocupações pois talvez não seja assim tão compensador ver as inquietações da morte, do amor, do pecado e claro, da religião nos outros. Preocupo-me todos os dias com essa última parte pois já a minha mãe foi acusada de ser feiticeira pelos poderes que tinha. A única coisa que vejo pura no meio disto é o amor que há entre mim e Baltasar. Esse sim foge a todos os males da sociedade...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Diário de D. João V

24 de Junho de 1709



Meu Diário,


Cada vez me agonia mais cumprir o dever que um matrimónio implica. As duas noites semanais que tenho de dormir com a rainha dão me vontade de não o cumprir. Estou à espera de um descendente à meses e ela não mo parece querer dar. A culpa não é minha claro, pois após todas as minhas tentativas de ter um rapaz, que foram bem cumpridas, a rainha ainda não conseguiu engravidar. Falei com a Igreja, que me dá a sua bênção em todos os meus actos e foi-me dito que certamente eu iria conseguir ter um filho se erguesse um convento grandioso em Mafra. Como a Igreja ainda não me desiludiu, essa vai ser a medida que vou tomar e com alguma sorte terei o meu filho a chegar brevemente. Vou preparar-me para as minhas reuniões com as belíssimas senhoras que me fazem companhia e me tiram deste mundo de obrigações para com Portugal. Mas esse é o meu dever, e eu como toda a elegância irei cumpri-lo sem problemas.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Diário do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

17 de Fevereiro de 1710

Abençoado Diário,


O período em que vivemos faz-me questionar seriamente a minha vida e os princípios que sempre segui. A minha devoção a Deus não me permite fazer o que gosto e nada me põe mais triste e inquieto do que não poder construir a minha máquina voadora, principalmente quando tenho a ajuda de Baltazar e de Blimunda, que têm sido uma bênção para mim. Baltazar inspira-me e dá-me forças para continuar e agradeço-lhe as vezes que ele me demoveu de desistir do meu sonho. Ver um homem da guerra que mostra ser tão forte como um homem qualquer e que não liga à sua incapacidade inspira-me a continuar a querer voar onde até agora só subiram Cristo, a Virgem e alguns santos. Tristemente a Igreja nomeia as minhas intenções de bruxaria e perseguem-me por me acusarem de bruxo. Já pensei em desistir e entregar-me mas o meu sonho é ver a passarola acabada e poder voar nela com Baltazar e Blimunda que tanto me ajudaram. A Inquisão não me permite sonhar nos tempos que decorrem e vejo-me assim obrigado a fugir. Desaparecer na minha máquina para onde ninguém me persiga e para onde possa viver em paz. O que me conforma é saber que posso passar o meu projecto a Baltazar caso algo corra mal e que ele o acabará com orgulho e entusiasmo. Continuarei a sonhar mesmo que o meu sonho me classifique como herege ou hipócrita por rezar todos os dias para que nada de mal me aconteça, nem a mim nem aos meus companheiros.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Memorial do convento

Agora que começou o 3º período e iremos estudar uma nova obra resolvi começar o meu trabalho de uma nova maneira. Visto que as personagens do livro Memorial do Convento de Saramago têm muito para contar, resolvi iniciar-me com uma página de diário (que corresponde a um dia) de cada personagem, escrita por mim como se fosse ele/ela. Irei integrar a história contada no livro e certos desabafos que se poderiam encaixar no perfil que podemos traçar de cada personagem após lermos o livro.