quinta-feira, 23 de abril de 2009

Convento de Mafra versus Passarola

Lendo esta obra que fala de sonhos e promessas, de um puzzle e de uma obra barroca, ocorreu-me fazer a seguinte ligação: D. João V, o rei sabedor e fazedor de tudo com a maior distinção possível, tal como o Padre Bartolomeu, um homem humilde que se deparava constantemente com os seus princípios, o seu amor à ciência e com as consequências que isso poderia ter, têm ambos uma coisa em comum: o objectivo de criar algo, embora esse algo fosse criado por motivos diferentes. D. João V que tinha a obrigação de dar um descendente ao reino Português prometeu erguer um convento caso isso acontecesse. Convento esse erguido em Mafra, que é o melhor exemplo da arquitectura barroca que temos no nosso país. A razão que o levou a ser construído podemos nomear de conveniente, mas também de obrigatória pois Portugal não se iria "governar" sozinho, e como D. Maria parecia não estar nos seus melhores dias D. João V tinha de tornar este feito numa divindade... e porque não construir um convento que mostrasse o quão divino foi esse feito? E porque não dar um lugar aos que mais perto do divino querem estar?

Significado de convento:
O termo convento, do latim conventus que significa "assembleia", advém originalmente da assembleia romana onde os cidadãos se reuniam para fins administrativos ou de justiça (convéntum jurídicum). Posteriormente passou-se a utilizar com sentido religioso, relativamente ao monasticismo quando, para melhor servir e amar a Deus, os homens se retiravam do mundo, primeiro sozinhos, depois em grupos de monges (comunidades religiosas), para edifícios concebidos para o efeito, os conventos.

Acho que esta definição sublinha de forma adequada as duas interrogações do primeiro parágrafo.

Agora falemos de outra coisa. Uma coisa que não tem bem definição mas que no livro se chama de sonho. Para mim devia chamar-se coisa porque o que está por detrás do construir da passarola não é completamente linear, e pode ter até diversas interpretações. Será que era mesmo só o amor pela ciência? Ou só o desejo de voar? Será que o voar era uma metáfora? Metáfora para o povo? Ou metáfora para a Igreja? Será que o padre queria voar para junto daqueles que ele idolatra? O meu nome de certo que não é Bartolomeu Lourenço de Gusmão portanto não poderei responder a estas perguntas, mas vou continuar a chamar-lhe coisa.

Significado de passarola:

A primeira aeronave conhecida no mundo a efectuar um voo foi baptizada de Passarola, e antecede 74 anos o famoso balão dos Montgolfier. A Passarola era um aeróstato, cujas características técnicas não são actualmente conhecidas na totalidade, inventado por Bartolomeu de Gusmão, padre e cientista português nascido no Brasil colónia, tendo voado no ano de 1709.

Esta era um aeróstato aquecido a ar quente, aquecimento esse que era produzido através de uma fonte de ignição instalada numa barca sob o aparelho. Tecnicamente a passarola devia ter as características dos actuais balões de ar quente.

A minha tradução deste último parágrafo segundo o contexto da obra:

Esta era um aeróstato especial que voava consoante as vontades, vontades essas recolhidas por Blimunda que tinha a ajuda do seu companheiro Baltasar que era o técnico do engenho. Ficcionalmente a passarola representa o amor de Blimunda e Baltasar e é o querer voar, num sentido ficcional da palavra que os mantém unidos.

Ora bem, se compararmos agora estes dois elementos acho que mais facilmente se derrubaria a obra de Johann Friedrich Ludwig do que a obra do Padre de Bartolomeu de Gusmão. E com todo o respeito ao arquitecto, não me refiro a uma envergadura física.

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