sexta-feira, 29 de maio de 2009

Memorial deste trabalho - Relatório

Este trabalho permitiu-me desenvolver a minha escrita e expressar as minhas ideias e opiniões apesar deste ser relacionado com a obra que estamos a estudar neste período. A parte que gostei mais foi escrever os diários na pele de cada personagem porque isso exigiu que eu "investigasse" com algum cuidado as particularidades da personalidade de cada personagem. Espero que as minhas ideias tenham sido transmitidas conforme eu queria porque foi um dos meus objectivos aprofundar um pouco a matéria que já sabíamos e juntar a isto algumas curiosidades. Não senti muitas dificuldades em desenvolver o trabalho e gostei de o fazer, mas devo confessar que devido às agitações do 3º período não consegui dedicar-me a este tal como pretendia.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Same old fire, another flame (2)

Novamente concluí que existe uma grande ligação entre o título do meu blog e o tema do trabalho. No primeiro período relacionei-o com a peça "Felizmente Há Luar!" ao aperceber-me das características da personagem Matilde, e desta vez o papel da mulher reforça-se, para mais uma vez me dar a oportunidade de a destacar com a seguinte letra da música dos Led Zeppelin, chamada The Wanton Song:

"Silent woman in the night, you came, Took my seed from my shaking frame.
Same old fire, another flame, And the wheel rolls on.

Silent woman through the flames, you come, From the deep behind the sun
Seems my nightmares, have just begun
Left me barely holding on.

With blazing eyes you see my trembling hand.
When we know the time has come
Lose my senses, lose command
Feel your healing rivers run

Is it every time I fall, That I think this is the one
In the darkness can you hear me call
Another day has just begun.

Silent woman, my face is changed
Some know in ways to come.
Feel my fire needs a brand new flame
And the wheel rolls on.... rolls on."


Novamente a parte que me interessou foi:

"Same old fire, another flame, And the wheel rolls on.
Silent woman through the flames, you come,
From the deep behind the sun
Feel my fire needs a brand new flame
And the wheel rolls on.... rolls on."

Tradução:

O mesmo fogo antigo, outra chama, e a roda gira.
Mulher silenciosa que vens das chamas,
Tu vens do profundo atrás do sol
Sente o meu fogo que precisa de uma nova chama
E a roda gira… gira…

No contexto da obra poderíamos interpretar o primeiro verso como: a corrupção e perseguição antigas, outro poder/rei, e a força de vontade mantém-se.
As "chamas" no segundo verso poderiam significar, simbolicamente, os poderes sobrenaturais de Blimunda.
O terceiro verso tem uma coincidência fantástica pois a força que está por detrás dessa mulher, falada na música, é o Sol e quem está por detrás de Blimunda é Baltasar Sete-Sóis, que tal como o sol, representa para ela a sua razão de vida, a sua fonte de "alimentação" e a iluminação dos seus dias.
O quarto verso pode muito bem representar as etapas que Blimunda tem de ultrapassar ao ficar doente por recolher as duas mil vontades, e ao procurar Baltasar por alguns anos. Novamente "a roda gira" simboliza neste contexto a enorme força de vontade desta mulher que se mantém e cresce após tudo isto.

Nesta obra não há força maior que a de Blimunda. Nela estão representadas todas as características positivas, ou seja, qualidades que qualquer mulher desejaria ter. E ao interpretarmos esta frase temos de ter em atenção que o interesse de Saramago não foi retratar a riqueza e a fama que todos procuram mas sim o bem-estar interior, a sensatez e a humildade, os sentimentos bons pelos outros e a preocupação com os mesmos e o mais importante, a força de vontade, valores estes essenciais para qualquer vida bem concretizada. Aspectos estes que à primeira vista não são os que nos passam pela cabeça quando nos perguntamos pelas coisas que fariam de nós boas pessoas e também pessoas felizes. Engraçado é o facto que, supostamente, para o sexo masculino, a felicidade seria uma coisa mais fácil de alcançar do que para as mulheres já que a esse sexo foram atribuídas melhores e vantajosas qualidades físicas que à partida nos superam. Desprezando este tipo de preconceitos e sublinhando a vontade de que estes desapareçam, esta é uma das razões pela qual, na minha opinião, Saramago optou por atribuír esse papel a uma mulher. Mulher essa que não é uma princesa ou uma rainha, ou qualquer outro cargo de grande estatuto, mas sim uma pura e simples mulher.

sábado, 23 de maio de 2009

Obras e esclarecimentos

Devido aos acontecimentos de Sexta-Feira, 22 de Maio de 2009 queria apenas esclarecer umas coisas. Em resposta ao presidente do conselho executivo, José Paiva pela sua afirmação: "'Houve aqui uma expressão juvenil eventualmente trabalhada, não se sabe bem em que termos." A expressão juvenil apenas foi trabalhada desde o momento em que a ministra da Educação entrou na escola e não antes. Falando por mim e pelo grupo de pessoas que estava comigo revoltado com toda esta situação, não são com as ditas obras que discordamos completamente, apesar de na minha opinião, a Escola António Arroio (e não Arroios como disseram nos telejornais) não precisar das "novas oportunidades" destacadas nas plantas expostas. A revolta inicial deu-se pela indignação dos alunos ao verem todo o aparato sem aviso anterior. Visto que a escola é um local onde maioritariamente se encontram alunos, deveriam ser estes a ser esclarecidos e não os que já sabiam de tudo. Acho uma vergonha não nos darem a oportunidade de expormos as nossas preocupações e sugestões, pois se o tivessem permitido estaria tudo num papel e na boca de um representante escolhido para falar com os "convidados" e não na boca de centenas de estudantes, uns com ideias fixas e outros que ultrapassaram completamente a preocupação principal, numa manifestação. A escola é para o nosso uso! E como o senhor primeiro-ministro me disse: "É pena não estarem aqui para o ano para poderem assistir à nova escola." eu digo que preferi estar lá nos últimos anos do que é a António Arroio a ter uma "nova oportunidade". O problema mais importante e esquecido por todos os jornais e talvez o único que não tenha passado a quem deveria ter chegado foi o facto de mais uma vez os alunos não poderem participar num projecto feito para os mesmos e ninguém, nem mesmo as pessoas da nossa escola, ter tido a decência de nos informar do que se estava a passar para que pudessemos estar envolvidos neste projecto e para sermos ouvidos! Não falo das obras em si, mas das preocupações a que estas nos remetem e que gostaríamos de expôr. Reparem que ninguém quer atirar ovos e fazer cartazes, apenas queremos que nos sejam atribuídos os direitos que temos e que não nos tratem apenas como pessoas de 15 a 18 anos mas sim como Pessoas iguais a todas as outras que têm o direito de falar e serem esclarecidas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Serpico

Mais um filme, outra história. Este relata uma história verídica sobre corrupção. Esta injustiça foi vivida por um polícia, não dos de agora, mas por um que ainda se preocupava mesmo com a segurança da sociedade e com a honestidade do seu trabalho, elementos com que actualmente poucas pessoas se preocupam. A ilegalidade que se presenciava era a existência de subornos que os polícias recebiam de criminosos (e a quantidade de dinheiro sem passar por quaisquer tipos de impostos não era pouca) para que eles não os prendessem. Essas quantidades eram atribuídas mensalmente a todos os polícias e só um é que recusava participar nesse tipo de corrupção, sofrendo inúmeras discriminações devido a essa nobre atitude. Essa notícia foi anunciada por este homem chamado Serpico, à famosa revista "Times", e a partir desse momento a sociedade percebeu que não estava em segurança e que não podia viver tranquilamente porque não existia ninguém de confiança. O meu objectivo com este texto é comparar este tipo de atitudes com as que a Inquisição tomava. "A Inquisição era um tribunal eclesiástico destinado a defender a fé católica: vigiava, perseguia e condenava aqueles que fossem suspeitos de praticar outras religiões. Exercia também uma severa vigilância sobre o comportamento moral dos fiéis e censurava toda a produção cultural bem como resistia fortemente a todas as inovações científicas. Na verdade, a Igreja receava que as ideias inovadoras conduzissem os crentes à dúvida religiosa e à contestação da autoridade do Papa." Tal como o momento em que Frank Serpico espalhou a notícia escandalosa, em que milhares de pessoas se sentiram revoltadas e inseguras, Blimunda, Baltasar e Bartolomeu "sentiram" a perseguição, a repreensão, a condenação, a vigilância e a tentativa de proibição de construir a passarola. Como conseguiam viver as pessoas de mente aberta e puras dessa época? Essa pergunta faço-a, com o receio da resposta ser: não conseguiam por muito tempo, porque eu, sabendo como sou, sei com toda a certeza que não me iria dar bem num ambiente desses, apesar das épocas e mentalidades serem outras. Fica aqui o apelo à honestidade e à preocupação com a comunidade (e não apenas com nós próprios) para que se assim fosse, tal como escreveu Almada Negreiros, "talvez o mundo fosse Mundo e não a retrete que é!" Apelo a mais Frank Serpicos que existam algures para que apareçam e falem, e que nos preocupem, porque a preocupação pode ser o elemento mais importante para a origem de mudanças. Mudanças essas que precisamos como nunca antes precisámos.


Al Pacino como Frank Serpico

domingo, 17 de maio de 2009

Baltasar como pintura

No 2º período, numa aula de História da Cultura e das Artes deparei-me com um quadro que me fez lembrar de imediato Baltasar. O quadro é de Kirchner, de 1915 e chama-se "Self-Portrait as a Soldier". Baltasar foi soldado na guerra de sucessão espanhola, donde foi expulso por ter ficado mutilado da mão esquerda.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Veracidade deste memorial

Quando li este livro a primeira coisa que me chamou a atenção foi o existir de uma personagem tão peculiar como Blimunda. Peculiaridade vista através desse nome tão invulgar mas principalmente pelos poderes que a caracterizavam. De onde teriam inventado esses poderes? Porquê sequer a presença de poderes numa história como esta? Estas eram algumas das perguntas que eu fazia até que decidi começar a procurar o porquê desta mulher. Deparei-me com artigos sobre a importânica do sexo feminino nas obras de Saramago e como as mulheres poderiam ser tão fortes como os homens ou tão fracas como há quem as caracterize. Um bom exemplo disso seria a diferença entre Blimunda e a rainha D. Maria Ana de Áustria. Esta primeira é caracterizada como uma enorme força de vontade, uma mulher incapaz de desistir dos seus objectivos. Qualidades que confirmamos com o contruir da passarola, o súbito adoecer devido à recolha das duas mil vontades e ao assistir da condenação da sua mãe. No entanto a rainha é representada como uma mulher submissa que não parece saber o significado de impôr-se. O mais engraçado para mim será talvez a ironia da classe das personagens e da sua caracterização. A meu ver veria mais facilmente uma rainha a ter as características de Blimunda e uma mulher do povo que sofre dos males da altura a ser como a rainha.
No decorrer da minha pesquisa encontrei vários documentos que falavam sobre a existência de uma mulher "anormal" que tinha poderes.

"Esta rapariga, motivo de assombro para quem a conhece (...) possui desde a mais tenra idade o dom de ver o interior do corpo humano bem como as entranhas da terra. Aparentemente os seus olhos são como os do comum dos mortais, apenas muito grandes e verdadeiramente belos (...) A sua vista penetra a terra no lugar onde há nascentes que ela descobre a uma profundidade de trinta ou quarenta braças, sem recurso de vara; diz com precisão o curso da água, a profundidade a que se encontra a nascente e distingue as cores e a variedade das camadas de terra que existem sob a superfície. Este dom maravilhoso só o usufrui quando está em jejum."

Anónimo, «Descrição da cidade de Lisboa», in O Portugal de D. João V visto por três forasteiros.

"Confesso que não me atrevo a explicar o dom que ela possuía de ver o corpo humano, bem como o dos animais, por dentro e outrossim o interior da terra a uma grande profundidade (...) Não era possível duvidar da faculdade desta mulher a descobrir as águas subterrâneas."

Charles Fréderic de Merveilleux, «Memórias intrutivas sobre Portugal», in O Portugal de D. João V visto por três forasteiros.

Estes relatos fazem me então pensar na existência da loucura de quem os escreveu ou no fenómeno que foi esta mulher. Mais uma vez a partir desta informação, Saramago conseguiu contruir uma história digna de filme ao misturar o romance, o convento, o sonho, a morte e os poderes num só livro.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Paralelismos

Ao lermos esta obra podemos comparar certas acções a coisas já passadas. As que destaco são:

Quando no início do livro Blimunda encontra pela primeira vez Baltasar, ela pergunta-se acerca do seu nome no decorrer de um auto-de-fé, sítio onde se dá a morte do seu amado:

"Que nome é o seu, e o homem disse, naturalmente, assim reconhecendo o direito de esta mulher lhe fazer perguntas".

Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão esquerda".

Talvez o local de encontro destes amantes onde se conheceram pela primeira vez fosse um prefácio para o que os iria separar. Tudo devido à perseguição pela Inquisição, ou seja, tudo acaba onde começou.

Quando a Inquisição condena a mãe de Blimunda no início do livro e no final da história é condenado Baltasar e finalments a comunicação que Blimunda tem com a sua mãe e com Baltasar, ambos num momento de desespero:

"não fales, Blimunda, olha só com esses olhos que tudo são capazes de ver";
"adeus Blimunda que não te verei mais".


"Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis".

Na minha opinião o amor que Blimunda tem pela mãe que está prestes a ser condenada é reforçado desde o momento em que conhece Baltasar que de certa forma a completa. A mãe de Blimunda e Baltasar são duas forças fulcrais para esta personagem. Uma que simboliza os seus poderes e outra que simboliza o amor. Ambas simbolizam uma cara-metade.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Barroco e Jazz

Na aula em que pudemos ouvir as músicas que a professora pôs a tocar anotei os seguintes tópicos:

Música Barroca: Muito entusiasta quer o tema fosse feliz ou triste. É frequente o uso do orgão. Os sons são rápidos e curtos. Utilização de uma escala num tom preferencialmente agudo.
Literatura: A linguagem é antiquada e isso verifica-se nas expressões utilizadas por Saramago. É frequente a invocação da religião e o uso de uma linguagem dramática devido à quantidade de figuras de estilo utilizadas.
Jazz contemporâneo do Barroco: Este tipo de música segue o Barroco mas utiliza tons mais graves e prolongados assim como instrumentos modernos. Recorre também ao estilo próprio do Barroco (sons rápidos e agudos) mas com um ritmo mais próprio do Jazz. A velocidade com que se repete o "tema padrão do barroco" vai aumentando conforme a música decorre e vão sendo introduzidos novos instrumentos.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Relatório

Desde a data em que criei este blog tenho tido muito mais gosto por escrever e por abrir a mente e deixar sair os meus pensamentos. Tenho escrito sobre coisas que me afectam e que eu julgo serem frequentes no quotidiano e tenho tentado relacionar a matéria com questões que possam originar temas de debate e que nos façam pensar. Como já não é obrigatório relacionar a matéria e o quotidano com o elemento já me sinto muito mais à vontade para escrever e daí não ter tido dificuldades. Espero que o meu trabalho feito até agora corresponda ao pedido para que possa continuar a escrever sobre assuntos semelhantes.
Quando comecei a ler esta obra não senti grande entusiasmo devido à maneira esquisita com que apelidamos a escrita de Saramago e devido à história entre a rainha e o rei que me fazem lembrar de História, disciplina que nunca andou de braço dado comigo. O tema que mais gostei de escrever foi o "B de (2)" porque está relacionado com uma pesssoa que eu conheço muito bem, talvez até a que eu conheço melhor e provavelmente por isso ter tirado tanto proveito de o ter feito. Continuarei assim a escrever com agrado e vou fazer ainda esta semana uma entrada no blog relativamente às musicas que ouvimos na aula inseridas no Barroco, como de Scarlatti e de Jazz.

domingo, 3 de maio de 2009

sábado, 2 de maio de 2009

B de (2)

Bárbara: Significa estrangeira e associa-se a uma pessoa original, que está sempre em busca de novidades. Por isso, quando sente que as suas tarefas estão a ficar rotineiras, trata logo de mudar de actividade. Criativa, pode fazer sucesso nas artes ou na literatura, mas não se preocupa muito em ganhar dinheiro com isso.

Beltrão: (anglo-saxão) Negro e brilhante.


Bárbara é o nome pelo qual chamo a minha melhor amiga e é com ela que partilho exclusivamente os meus sentimentos e tudo o que me rodeia. É ela que me percebe e que me aconselha. É a ela que agradeço por me permitir ser como sou e por ainda abençoar-me por isso. Obrigada por tudo o que deste de ti desde que nos conhecemos. O conhecer para nós não é algo linear mas sim de uma profundidade tal que não precisamos de falar para ambas sabermos o que a outra está a pensar. É quando essas coisas acontecem que sabemos o verdadeiro significado de conhecer! És tu quem distingue e quem criou os meus sete sorrisos. Todos diferentes, todos usados cuidadosamente mas inconscientemente.
Oh barbara que eu gosto tanto de ti! Um tanto que não se mostra pela amplitude de quanto os meus braços abrem mas sim por muito mais do que isso! Vamos viver outra vez com a intensidade que vivemos! Sem ligar ao que outros dizem de ti ou de mim, vamos as duas puxar os cordelinhos do mundo! Vamos ser pequenas para sempre que eu não quero ser grande! Não quero crescer e preocupar-me com as coisas dos crescidos, quero apenas estar ao teu lado e não ligar a tais preocupações com que os outros se deparam. Vamos à procura da terra do nunca e torná-la a terra do sempre! És a melhor pessoa do universo e repara que ele é infinito! Vamos fugir as duas deste mundo e desta ira imensa que lhe pertence!

Será o B a causa desta ternura? Poderá ter sido o Saramago a juntar-nos? Tu serias quem? Provavelmente a Blimunda por seres o anjo que és e por teres o cuidado de sentir tudo o que te toca, uma qualidade que à tua maneira é só e só tua! Obrigada Bárbara por me ensinares um novo significado da palavra Amizade. Obrigada!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

B de (1)

B de Baltasar:
"Do germânico: Protegido por Deus."

B de Blimunda:
"Do germânico: Representa a força, a contestatação do poder e a resistência."

B de Bartolomeu:
"Do Hebraico: Vencedor nato."


Será uma grande coincidência o facto do nome das três personagens principais desta obra, que se ajudam umas às outras, começar por B? Eu não acredito. O número 3 é conhecido por ser o número do Divino, mas já que esta história representa um trio terrestre isto siginifca que o 3 precisará de passar para o 4: número da terra. Esse quarto elemento surge na personagem de Domenico Scarlatti, um músico. Sendo quatro o número da totalidade, podemos agora dizer que o trio estava à espera de ser completo. Baltasar significa "protegido por Deus" e segundo a minha opinião acho este significado bastante apropriado, não fosse Baltasar ter perdido uma mão na guerra. A partir desse momento observamos à quase destruição desta personagem por se tornar num vagabundo, coisa que acabou quando conheceu Blimunda. A força que a retrata podemos vê-la através do recolher das duas mil vontades e do seu estado debilitado que através de Scarlatti depressa melhorou. A contestação do poder podemos verificar logo desde o início quando a mãe de Blimunda é condenada por ser acusada de feiticaria. A resistência é o que simboliza tudo o que ela passa. Desde a condenação da mãe até aos nove anos de angústia à procura de Baltasar. Bartolomeu significa "vencedor nato" e acho que esta expressão pode ser corroborada desde o momento e que o seu sonho é construir a passarola e fazê-la voar, e para isso este padre tem de "lutar" contra a Inquisição e continuar a acreditar no seu sonho: um padre que se deixou levar pela ciência, coisa que era muito controlada pela Igreja - a sua suposta casa. Domenico aparece agora para ajudar este trio no seu trabalho aliando o engenho e a magia com a arte. Foi com a sua música que Blimunda recuperou do seu estado débil. Mais uma vez sendo a personagem Blimunda a que melhor representa a força, é esta a única pessoa do trio que sobrevive, apesar da vida não ter sido sempre tomada como um dado adquirido ao longo da sua história. Outro aspecto importante: Bal-ta-sar e Bli-mun-da. Ambos os nomes são compostos por três sílabas, número que nos leva ao divino. Nessa divindade está subentendida o amor entre estas duas personagens que parece nada ter de imperfeito e a perfeição não é coisa que pertença à terra mas sim aos divinos. Do-me-ni-co e Bar-to-lo-meu. Ambos os nomes são compostos por quatro sílabas e desta vez este número leva-nos à terra. Elemento subentendido nas duas personagens: em Bartolomeu porque a terra para ele foi apenas um motivo para sair dela mesma - através do seu sonho da passarola e também porque a ciência é algo que pertence à terra pois se a ela não pertencesse, esta não existira devido à falta de fenómenos à espera de serem estudados. Domenico neste caso representa a costrução da passarola e a vontade de ver Blimunda "regressar à terra" e não a de a ver ir para debaixo desta. Scar-la-tti. Domenico Scarlatti que é conhecido por estes dois nomes é uma personagem que representa tanto a terra como o divino. Como neste nome apenas vemos três sílabas é aqui que vemos o divino através da sua arte: a música, através da qual Blimunda recuperou da sua doença o que nos permite classificar esta cura como divina.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Diário de Domenico Scarlatti

5 de Abril de 1710


Harmoniosa pauta que guarda sempre os meus segredos,

Hoje, como já tenho feito algumas vezes, fui tocar para Blimunda. Tudo isto para ver se ela se consegue levantar e se se consegue libertar da sua doença tão peculiar... Agora que o Padre Bartolomeu morreu, resta-nos a mim, a Baltasar e a Blimunda dar um futuro à passarola, objecto voador que serviu para nos unir. Eu e a minha música faremos todos os possíveis para que o sonho deste homem tão bondoso seja concretizado. Baltasar e Blimunda ficaram completamente devastados com a notícia. Só espero que isto não faça Blimunda piorar, mas se tivermos sorte ela vai ficar bem, até porque ela acredita piamente na minha música e isso só pode querer dizer algo. Esperemos que tudo corra bem e que ninguém desista deste sonho pois nada faria o Padre Bartolomeu mais contente do que ver o seu sonho concretizado...

domingo, 26 de abril de 2009

Diário de Baltasar

25 de Março de 1710


Querido Diário,

Que bom foi encontrar finalmente um sentido para a minha vida! Creio que se não fosse Blimunda, provavelmente estaria num canto qualquer a arruinar a minha vida... Também tenho de agradecer ao meu grande amigo, o padre Bartolomeu! Se não fosse ele e o seu projecto de construir a passarola, já nem eu iria saber o significado de sonhar! Agradeço-lhe por acreditar em mim e por não se preocupar com o facto de eu ser maneta... que rico homem! Agora mudando drasticamente de tema, tenho pensado dias a fio sobre a construção do Convento já que me vou integrar no conjunto de operários que o vão erguer! O rei para variar não pensa em sensatez, e muito menos no povo! Chega de escravatura! Tudo isto para o Convento estar acabado no dia de aniversário de El-rei? Chega de injustiças! Estão dezenas de pessoas a morrer todos os dias por causa da vontade do rico senhor! Que vergonha! Vou parar de escrever sobre estas coisas não venha a Inquisição qualquer dia ler-me os desabafos!
Minha Blimunda, a única pessoa que consegue que eu fuja disto tudo... a minha cara-metade que tanto tem para me ensinar. Se não fosse ela nem sei bem o que seria de mim...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Convento de Mafra versus Passarola

Lendo esta obra que fala de sonhos e promessas, de um puzzle e de uma obra barroca, ocorreu-me fazer a seguinte ligação: D. João V, o rei sabedor e fazedor de tudo com a maior distinção possível, tal como o Padre Bartolomeu, um homem humilde que se deparava constantemente com os seus princípios, o seu amor à ciência e com as consequências que isso poderia ter, têm ambos uma coisa em comum: o objectivo de criar algo, embora esse algo fosse criado por motivos diferentes. D. João V que tinha a obrigação de dar um descendente ao reino Português prometeu erguer um convento caso isso acontecesse. Convento esse erguido em Mafra, que é o melhor exemplo da arquitectura barroca que temos no nosso país. A razão que o levou a ser construído podemos nomear de conveniente, mas também de obrigatória pois Portugal não se iria "governar" sozinho, e como D. Maria parecia não estar nos seus melhores dias D. João V tinha de tornar este feito numa divindade... e porque não construir um convento que mostrasse o quão divino foi esse feito? E porque não dar um lugar aos que mais perto do divino querem estar?

Significado de convento:
O termo convento, do latim conventus que significa "assembleia", advém originalmente da assembleia romana onde os cidadãos se reuniam para fins administrativos ou de justiça (convéntum jurídicum). Posteriormente passou-se a utilizar com sentido religioso, relativamente ao monasticismo quando, para melhor servir e amar a Deus, os homens se retiravam do mundo, primeiro sozinhos, depois em grupos de monges (comunidades religiosas), para edifícios concebidos para o efeito, os conventos.

Acho que esta definição sublinha de forma adequada as duas interrogações do primeiro parágrafo.

Agora falemos de outra coisa. Uma coisa que não tem bem definição mas que no livro se chama de sonho. Para mim devia chamar-se coisa porque o que está por detrás do construir da passarola não é completamente linear, e pode ter até diversas interpretações. Será que era mesmo só o amor pela ciência? Ou só o desejo de voar? Será que o voar era uma metáfora? Metáfora para o povo? Ou metáfora para a Igreja? Será que o padre queria voar para junto daqueles que ele idolatra? O meu nome de certo que não é Bartolomeu Lourenço de Gusmão portanto não poderei responder a estas perguntas, mas vou continuar a chamar-lhe coisa.

Significado de passarola:

A primeira aeronave conhecida no mundo a efectuar um voo foi baptizada de Passarola, e antecede 74 anos o famoso balão dos Montgolfier. A Passarola era um aeróstato, cujas características técnicas não são actualmente conhecidas na totalidade, inventado por Bartolomeu de Gusmão, padre e cientista português nascido no Brasil colónia, tendo voado no ano de 1709.

Esta era um aeróstato aquecido a ar quente, aquecimento esse que era produzido através de uma fonte de ignição instalada numa barca sob o aparelho. Tecnicamente a passarola devia ter as características dos actuais balões de ar quente.

A minha tradução deste último parágrafo segundo o contexto da obra:

Esta era um aeróstato especial que voava consoante as vontades, vontades essas recolhidas por Blimunda que tinha a ajuda do seu companheiro Baltasar que era o técnico do engenho. Ficcionalmente a passarola representa o amor de Blimunda e Baltasar e é o querer voar, num sentido ficcional da palavra que os mantém unidos.

Ora bem, se compararmos agora estes dois elementos acho que mais facilmente se derrubaria a obra de Johann Friedrich Ludwig do que a obra do Padre de Bartolomeu de Gusmão. E com todo o respeito ao arquitecto, não me refiro a uma envergadura física.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Diário de Blimunda

13 de Janeiro de 1710


Querido Diário,

Cada vez me sinto melhor ao lado de Baltasar. É tão gratificante ver um homem que já sofreu tanto capaz de amar os outros e de se dedicar aos amigos como ele se dedica. Já contei o meu pequeno segredo a Baltasar e hoje quando acordámos ele tirou-me o pão com esperanças de que eu olhasse para ele em jejum e visse o seu interior. Eu recusei-me porque para mim basta amar Baltasar, e esse sentimento é suficiente para eu aceitá-lo tal como ele é. É com ele que partilho as minhas tristezas, alegrias e preocupações da vida. É com ele que somos um ser apenas e é ao lado de Baltasar que quero passar o resto dos meus dias.
Ontem o Padre Bartolomeu falou-nos no seu projecto da passarola e Baltasar mostrou-se muito interessado em ajudá-lo. A minha função será recolher as vontades que farão com que a passarola voe. Esperemos que os meus "poderes" não se tornem obstáculos. Apenas escrevo isto devido às minhas preocupações pois talvez não seja assim tão compensador ver as inquietações da morte, do amor, do pecado e claro, da religião nos outros. Preocupo-me todos os dias com essa última parte pois já a minha mãe foi acusada de ser feiticeira pelos poderes que tinha. A única coisa que vejo pura no meio disto é o amor que há entre mim e Baltasar. Esse sim foge a todos os males da sociedade...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Diário de D. João V

24 de Junho de 1709



Meu Diário,


Cada vez me agonia mais cumprir o dever que um matrimónio implica. As duas noites semanais que tenho de dormir com a rainha dão me vontade de não o cumprir. Estou à espera de um descendente à meses e ela não mo parece querer dar. A culpa não é minha claro, pois após todas as minhas tentativas de ter um rapaz, que foram bem cumpridas, a rainha ainda não conseguiu engravidar. Falei com a Igreja, que me dá a sua bênção em todos os meus actos e foi-me dito que certamente eu iria conseguir ter um filho se erguesse um convento grandioso em Mafra. Como a Igreja ainda não me desiludiu, essa vai ser a medida que vou tomar e com alguma sorte terei o meu filho a chegar brevemente. Vou preparar-me para as minhas reuniões com as belíssimas senhoras que me fazem companhia e me tiram deste mundo de obrigações para com Portugal. Mas esse é o meu dever, e eu como toda a elegância irei cumpri-lo sem problemas.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Diário do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

17 de Fevereiro de 1710

Abençoado Diário,


O período em que vivemos faz-me questionar seriamente a minha vida e os princípios que sempre segui. A minha devoção a Deus não me permite fazer o que gosto e nada me põe mais triste e inquieto do que não poder construir a minha máquina voadora, principalmente quando tenho a ajuda de Baltazar e de Blimunda, que têm sido uma bênção para mim. Baltazar inspira-me e dá-me forças para continuar e agradeço-lhe as vezes que ele me demoveu de desistir do meu sonho. Ver um homem da guerra que mostra ser tão forte como um homem qualquer e que não liga à sua incapacidade inspira-me a continuar a querer voar onde até agora só subiram Cristo, a Virgem e alguns santos. Tristemente a Igreja nomeia as minhas intenções de bruxaria e perseguem-me por me acusarem de bruxo. Já pensei em desistir e entregar-me mas o meu sonho é ver a passarola acabada e poder voar nela com Baltazar e Blimunda que tanto me ajudaram. A Inquisão não me permite sonhar nos tempos que decorrem e vejo-me assim obrigado a fugir. Desaparecer na minha máquina para onde ninguém me persiga e para onde possa viver em paz. O que me conforma é saber que posso passar o meu projecto a Baltazar caso algo corra mal e que ele o acabará com orgulho e entusiasmo. Continuarei a sonhar mesmo que o meu sonho me classifique como herege ou hipócrita por rezar todos os dias para que nada de mal me aconteça, nem a mim nem aos meus companheiros.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Memorial do convento

Agora que começou o 3º período e iremos estudar uma nova obra resolvi começar o meu trabalho de uma nova maneira. Visto que as personagens do livro Memorial do Convento de Saramago têm muito para contar, resolvi iniciar-me com uma página de diário (que corresponde a um dia) de cada personagem, escrita por mim como se fosse ele/ela. Irei integrar a história contada no livro e certos desabafos que se poderiam encaixar no perfil que podemos traçar de cada personagem após lermos o livro.

domingo, 15 de março de 2009

Relatório final

Ao longo deste trabalho apercebi-me que consigo ser menos superficial do que era no que toca à interpretação de textos e à escrita dos mesmos. Gostei do decorrer do blog e sobretudo de o poder relacionar com assuntos do meu interesse como com certas músicas e certos filmes. Embora o meu tema tenha sido uma peça de Luís de Sttau Monteiro devo confessar que a obra que mais gostei de ler (das que incluí no trabalho) foi A cena do Ódio de Almada Negreiros. Desde o ano passado que conhecia o Manifesto Anti-Dantas, devido a um amigo que partilha os mesmos gostos que eu, manifesto este que me pôs vários sorrisos na cara. Adorei a maneira satírica que Almada usou para se exprimir, mas ainda gostei mais dessa forma de expressão na obra que usei para concluir o meu trabalho. Nunca nenhum texto me suscitou tanto interesse quanto esse. O único aspecto em que senti dificuldades de incluir no blog foi o quotidiano, pois não encontrava a presença do fogo no meu dia-a-dia e por isso resolvi incluir as músicas e os filmes. De resto, foi uma "tarefa" que me agradou e que não criou muitos problemas.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Relatório da Visita de Estudo

Como estava previsto a visita de estudo começou por volta das 15 horas do dia 19 de Fevereiro. Encontrámo-nos todos no Rossio, na Rua da Bestesga, local que fui eu a apresentar explicando que uma firma que ali existia foi um dos locais de trabalho de Fernando Pessoa, como correspondente: a firma Lima Mayer & Perfeito de Magalhães. De seguida o nosso professor de Geometria presentou-nos com uma informação acerca da estátua D. Pedro IV que achei piada. Quando acabámos de falar sobre isso dirigimo-nos para o sítio onde estava a Tabacaria Mónaco que tinha uns desenhos nos azulejos com animais a fumar: uma analogia interessante. Achei a ida à estação de comboios do Rossio demasiado curta, porque me impossibilitou de ver todos os quadros, mas fiquei a saber que Ofélia morava muito perto da estação, e que Fernando Pessoa a esperava num café na mesma zona. O único sítio que estava com receio de ir devido ao meu medo de alturas, foi um dos que permanecemos durante mais tempo: O Elevador de Santa Justa, de onde tinhamos uma bela vista sobre Lisboa. Mais tarde fomos ter à Brasileira, um dos meus cafés favoritos que normalmente é o ponto de encontro no meu círculo de amigas nas Sexta-Feiras à noite, antes de irmos para o Bairro Alto. E eu que sou uma meticulosa apreciadora de café, a Brasileira é um dos sítios onde gosto mais de o beber. A última parte da visita, para mim, foi no café Martinho da Arcada, onde Fernando Pessoa ia regularmente com amigos e com Ofélia.

Uma boa visita de estudo, mas principalmente um bom ambiente de turma.

sábado, 7 de março de 2009

Fim proposto

Como já tinha referido, vou anunciar um fim que proponho a esta obra, um que eu gostaria de ver o General dizer. Para tal, recorri a parte da obra de Almada Negreiros chamada A cena do Ódio:

"Ó Horror! Os burgueses de Portugal
têm de pior que os outros
o serem portugueses!
A Terra vive desde que um dia
deixou de ser bola do ar
p'ra ser solar de burgueses.
Houve homens de talento, génios e imperadores.
Precisaram-se de ditadores,
que foram sempre os maiores.
Cansou-se o mundo a estudar
e os sábios morreram velhos
fartos de procurar remédios,
e nunca acharam o remédio de parar.
E inda eu hoje vivo no século XX
a ver desfilar burgueses
trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano,
e a saber que um dia
são vinte e quatro horas de chatice
e cada hora sessenta minutos de tédio
e cada minuto sessenta segundos de spleen!
Ora bolas para os sábios e pensadores!
Ora bolas para todas as épocas e todas as idades!
Bolas pròs homens de todos os tempos,
e prà intrujice da Civilização e da Cultura!
Eu invejo-te a ti, ó coisa que não tens olhos de ver!
Eu queria como tu sentir a beleza de um almoço pontual
e a f'licidade de um jantar cedinho
co'as bestas da família.

Eu queria gostar das revistas e das coisas que não prestam
porque são muitas mais que as boas
e enche-se o tempo mais!
Eu queria, como tu, sentir o bem-estar
que te dá a bestialidade!
Eu queria, como tu, viver enganado da vida e da mulher,
e sem o prazer de seres inteligente pessoalmente!
Eu queria, como tu, não saber que os outros não valem nada
p'ra os poder admirar como tu!
Eu queria que a vida fosse tão divinal
como tu a supões, como tu a vives!
Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça
a boiar à tona d'água, à mercê dos ventos,
sem nunca saber que fundo que é o Mar!
Olha para ti!
Se te não vês, concentra-te, procura-te!
Encontrarás primeiro o alfinete
que espetaste na dobra do casaco,
e depois não percas o sítio,
porque estás decerto ao pé do alfinete.
Espeta-te nele para não te perderes de novo,
e agora observa-te!
Não te escarneças! Acomoda-te em sentido!
Não te odeies ainda qu'inda agora começaste!
Enioa-te no teu nojo, mastodonte!
Indigesta-te na palha dessa tua civilização!
Desbesunta te dessa vermência!
Destapa a tua decência, o teu imoral pudor!
Albarda te em senso! Estriba-te em Ser!
Limpa-te do cancro amarelo e podre!
Do lazareto de seres burro!
Desatrela-te do cérebro-carroça!
Desata o nó-cego da vista!
Desilustra-te, descultiva-te, despole-te,
que mais vale ser animal que besta!
Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da
Civilização!
Queria-te antes antropófago porque comias os teus
– talvez o mundo fosse Mundo
e não a retrete que é!"

A relação que eu vejo entre as duas obras:
As palavras a negrito são as que podem ser substituidas pelas palavras que estão entre parêntesis.

"Ó Horror! Os burgueses de Portugal têm de pior que os outros o serem portugueses!"
(Principal Sousa, D. Miguel Forjaz e Beresford)
"Houve homens de talento, génios e imperadores."
(General Gomes Freire)
"Precisaram-se de ditadores, que foram sempre os maiores."
(Beresford)
"E inda eu hoje vivo no século XX a ver desfilar burgueses trezentas e sessenta e cinco vezes ao ano, e a saber que um dia são vinte e quatro horas de chatice e cada hora sessenta minutos de tédio e cada minuto sessenta segundos de spleen!"
(século XVIII, perseguição, opressão, injustiça)

No resto da obra quando Almada Negreiros inveja tudo aquilo que refere, podemos ver um apelo à paz, à pureza das almas, no sentido em que todos procuram denunciar todos e isso gera um clima de desconfiança que perturba a mente das pessoas. Ele pede para as pessoas se manterem puras e resistirem aos males da sociedade (apesar de todo este "apelo" ser processado de uma maneira extremamente crítica e satírica) "Albarda te em senso! Estriba-te em Ser! Limpa-te do cancro amarelo e podre!" Ele quer que as pessoas tomem uma atitude, que reajam, porque ele pensa que mais vale reagir e ser falado e talvez repreendido por isso do que ser uma "besta" igual a todos os outros corruptos da sociedade.

O fim da peça

Na obra Felizmente Há Luar! existe um leque de personagens que deseja incriminar o General, personagens essas que são:

• Vicente, que representa a hipocrisia e o oportunismo. É materialista pois pretende uma ascensão social rápida.
• Andrade Corvo e Morais Sarmento que representam a cobardia, a traição e a subserviência.
• D. Miguel Forjaz que representa a prepotência e a corrupção.
• Beresford que representa o castigo e a denúncia de traidores, a superioridade inglesa e o desprezo por Portugal
• Principal Sousa: fanático, corrompido pelo poder eclesiástico e odeia os franceses.


Estas personagens são todas símbolos de tirania, opressão, traição, injustiça e todas as formas de perseguição, e têm um alvo em comum: o General Gomes Freire de Andrade que acaba por ser morto devido à exaustiva perseguição por parte destas personagens.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Menina do Mar - Recordações

Lembrei-me deste livro já não me lembro bem porquê e quando fui folheá-lo vi algumas falas relacionadas com o meu tema.
Alguns excertos do livro Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner:

"- Não; mas tem lá dentro uma coisa maravilhosa, linda e alegre que se chama o fogo. Vais ver."

"A Menina deu palmas de alegria e pediu para tocar no fogo."

"- Isso - disse o rapaz - é impossível. O fogo é alegre mas queima.
- É um sol pequenino - disse a Menina do Mar."


"E o rapaz soprou o fósforo e o fogo apagou-se."

"- Não sou bruxo. O fogo é assim. Enquanto é pequeno qualquer sopro o apaga.
Mas depois de crescido pode devorar florestas e cidades.
- Então o fogo é pior do que a Raia? - perguntou - a Menina.
- É conforme. Enquanto o fogo é pequeno e tem juízo é o maior amigo do
homem: aquece-o no Inverno, cozinha-lhe a comida, alumia-o durante a noite.
Mas quando o fogo cresce de mais, zanga-se, enlouquece e fica mais ávido, mais
cruel e mais perigoso do que todos os animais ferozes."

Fotografias

Aqui estão algumas fotografias retiradas do site Olhares.com:








domingo, 22 de fevereiro de 2009

V for Vendetta

Mais um filme, este já o conheço há algum tempo e chama-se (em português) V de Vingança. O vídeo abaixo contém uma das cenas que mais gostei de ver em filmes. É a apresentação da personagem principal à mulher que mais tarde o irá ajudar.

Aqui está a fala:
"Voila! In view humble vaudevillian veteran, cast vicariously as both victim and villain by the vicissitudes of fate. This visage, no mere veneer of vanity, is a vestige of the vox populi now vacant, vanished. However, this valorous visitation of a bygone vexation stands vivified, and has vowed to vanquish these venal and virulent vermin, van guarding vice and vouchsafing the violently vicious and voracious violation of volition. The only verdict is vengeance; a vendetta, held as a votive not in vain, for the value and veracity of such shall one day vindicate the vigilant and the virtuous. Verily this vichyssoise of verbiage veers most verbose, so let me simply add that its my very good honour to meet you and you may call me V."




Uma parte importante deste filme foi a necessidade de confiança entre as duas personagens de que falei. Para essa confiança ser sólida V faz coisas terríveis que aterrorizam Eve, mas que a fazem entender a sua causa. V agarra-se à sua causa dessa maneira devido ao seu passado. E é quando nos dão a possibilidade de ver esse passado que vemos o porquê da maneira de ser de V. Vemo-lo surgir do fogo, prometendo vingança, e é este fogo que faz nascer este herói chamado V:

Scarface

Há pouco tempo, vi um filme que me apaixonou. Todos os dias tenho pensado sobre as falas que mais gostei de ouvir nesse filme e sobre a personagem que me encantou... é raro ver um actor entregar-se num papel que aos olhos dos outros seria desprezível mas que para mim conseguiu a minha admiração. Parabéns ao Al Pacino, mas sobretudo ao Tony Montana (a personagem de que falei anteriormente). Este filme é uma pequena amostra do que continua a ser a realidade embora tivesse sido realizado em 1983, pois conta-nos a história de um homem que queria subir na vida a todos os custos e que de facto o conseguiu, apesar desse feito ter sido o seu maior arrependimento devido ao sofrimento que causou na sua família e amigos. A sua vontade de subir na vida foi crescendo tal como o fogo se propaga, e a destruição que essa vontade causou pode ser comparada à destruição que o fogo causa. Deixo aqui uma música que faz parte da banda sonora deste filme cujo título é The world is Mine. Essa frase é a grande frase do filme, é a frase que aparece quando Tony Montana ainda não tinha alcançado o que queria, é a frase que o move, que o faz ter tudo aquilo que sonhava mas também é a frase que o destrói. Um excelente filme que merece ser visto, e uma excelente força que se enquadra tão bem no meu tema.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Falas

Aqui estão algumas das falas que mais gostei de ler nesta peça relacionadas com a morte do general:

Sousa Falcão - "Não estou de luto por ele, Matilde, mas a noite passada não pude dormir. Passei a noite a pensar, e, de madrugada, percebi que não sou quem julgava ser..."

Matilde - "O clarão da fogueira! Quando o virmos, já ele está aqui ao pé de nós! Foi para o receber que eu vesti a minha saia verde!"

Matilde - "Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio. Aquela fogueira, António, há-de incendiar esta terra!"

Matilde - "Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina! Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim..."

The Doors - Light my Fire

sábado, 7 de fevereiro de 2009

A relatividade das coisas

Estava eu hoje a ler a minha revista de eleição, a Vogue, quando me deparei com um artigo chamado: “A felicidade existe?” Antes de o começar a ler a minha cabeça já estava às voltas com milhares de respostas a essa pergunta como por exemplo: a felicidade é relativa, ninguém consegue ser feliz a vida inteira, existem pessoas que nem sabem o que é a verdadeira felicidade porque não se dão ao luxo de sofrer, e.t.c… O artigo começava com definições de Aristóteles, Epicuro, Séneca e Eduardo Punset. Continuei a ler sem me interessar muito pelas definições porque sinceramente na minha opinião emoções definidas como se fossem lições de vida não significam nada, cada um tem a sua maneira de sentir, e eu bem sei disso. A minha melhor amiga e eu somos o oposto no que toca a sentimentos, ela é sensível, tudo que lhe interesse mexe com ela enquanto que eu sou um caso diferente. Normalmente dizem-me: “Que horror Vera, que insensível!” ou “és tão fria!”, mas sinceramente tanto se me dá como se me deu porque como já tentei esclarecer, a minha ideia de sentir não tem um significado que se vá procurar ao dicionário e que se tome como igual para todos. Nada disso. Gostei especialmente da parte em que se falava do hedonismo: “Deu-se uma gande transformação na nossa ideia de um fundamento natural para o prazer. Até há vinte, trinta anos atrás, achavamos que este tinha que ver com as relações biológicas naturais, e o que se lhe escapava era o alucinigénio, as drogas ou o desviante.” A palavra que me intrigou mais neste excerto foi “relações” e não no contexto em que se encontra mas sim no sentido bruto da palavra. Quase todas as pessoas associam felicidade ao ter relações quer seja de cariz amoroso ou de amizade, pois eu não. Sem querer ser rude não são as pessoas reais de carne e osso que me fazem feliz tirando a pessoa que já falei aqui, mas sim as pessoas que vejo nos meus filmes de eleição, como no Feiticeiro de Oz, onde adoro o espantalho e o homem de lata. Adoro as suas personalidades e só o lembrar-me da minha fala favorita desse filme me faz estampar um sorriso na cara: “Fecha os olhos e bate os calcanhares um no outro três vezes, e pensa para ti mesma: Não há sitio como a nossa casa…”. Isso sim para mim é felicidade, poderia dar mais exemplos dessas pessoas que na realidade não existem mas não acredito que acabasse ainda hoje. Existem também outras coisas claro, hoje, por exemplo, enquanto estava a andar de autocarro, reparei no quão verde a relva estava e por ser um verde tão luminoso ao longe quase que parecia apenas luz, são essas coisas que as pessoas não dão valor que para mim são sinónimo de felicidade e não as tais relações. Infelizmente as pessoas deprimem-me mas também reconheço a minha ousadia ao dizer isto pois se agora o mundo desaparecesse menos eu acho que não seria um bom filme de se ver. Não sei se tenho tido azar ou se é mesmo assim mas aos 17 anos e particularmente desde há um ano para cá que tenho sentido esta coisa a crescer, este cansaço de pessoas que não me inspiram, que não me tocam, que não mudam nada no mundo. Não estou a dizer que eu faça essas coisas todas que exigo dos outros pois isso não seria verdade mas talvez seja esse o meu problema, exigir de mais. Para mim o estar rodeada de pessoas com quem me “rio” não significa o que transparece, até porque quando faço uma avaliação para mim mesma das coisas que oiço é que vejo o horror que é a sociedade. Eu assusto-me de já pensar assim com esta tenra idade, e sei que esta revolta me faz mal, e daí o meu feitio terrível, mas não o posso evitar, se o fizesse não seria eu. Esta é outra palavra que não me entra na cabeça… quando oiço alguém a gesticular e a contar as suas histórias e diz “Eu…” vejo-me a pensar: Mas quem és tu? E não percebo a necessidade que as pessoas têm de se distingir umas das outras, umas mais do que outras, como já tenho visto. É ridícula esta obcessão do “não me imites” quando isso apenas é uma farsa para com todos os outros. Todos absorvemos coisas das pessoas que nos rodeiam, quer seja a sua maneira de pensar, a sua maneira de vestir ou outras coisas, e é isso que nos faz crescer, não é o “vou ser diferente de todos para as pessoas pensarem qe eu sou alguém importante ou que sou muito crescida/o”. Daqui retiro a questão que mais me enfurece… que se baseia em moralidades, a meu ver ninguém tem moral para criticar o que quer que seja se já fez o mesmo embora não o admita ou “não se lembre”. Outra coisa é a memória de certos cérebros que só existe quando há algo de que se necessite, que engraçado que é ouvir as pessoas a mudarem de discurso quando se lembram que se calhar precisam de mim... Admiro mais os que continuam a achar-me indiferente e me mostram isso mesmo quando me pedem alguma coisa do que aqueles que se lembram de palavras queridas que existem para esses momentos oportunos. Preocupem-se mais em fazer uma introspecção que é o que nos falta essencialmente. Portanto respondendo ao artigo da Vogue, para mim a felicidade existe, existe na medida em que nós mesmos tenhamos a capacidade de nos proporcionar esses momentos felizes a partir do que quer que seja, duma escolha qualquer, mas a felicidade não é algo que dure para sempre sem intervalos de sofrimento, pois se não sofressemos nem saberíamos o significado de ser feliz. Felicito aqueles que conseguem encontrar felicidade apenas ao olhar para o lado, ou seja, quando querem e como querem, pois isso para mim seria A conquista.