sábado, 7 de fevereiro de 2009

A relatividade das coisas

Estava eu hoje a ler a minha revista de eleição, a Vogue, quando me deparei com um artigo chamado: “A felicidade existe?” Antes de o começar a ler a minha cabeça já estava às voltas com milhares de respostas a essa pergunta como por exemplo: a felicidade é relativa, ninguém consegue ser feliz a vida inteira, existem pessoas que nem sabem o que é a verdadeira felicidade porque não se dão ao luxo de sofrer, e.t.c… O artigo começava com definições de Aristóteles, Epicuro, Séneca e Eduardo Punset. Continuei a ler sem me interessar muito pelas definições porque sinceramente na minha opinião emoções definidas como se fossem lições de vida não significam nada, cada um tem a sua maneira de sentir, e eu bem sei disso. A minha melhor amiga e eu somos o oposto no que toca a sentimentos, ela é sensível, tudo que lhe interesse mexe com ela enquanto que eu sou um caso diferente. Normalmente dizem-me: “Que horror Vera, que insensível!” ou “és tão fria!”, mas sinceramente tanto se me dá como se me deu porque como já tentei esclarecer, a minha ideia de sentir não tem um significado que se vá procurar ao dicionário e que se tome como igual para todos. Nada disso. Gostei especialmente da parte em que se falava do hedonismo: “Deu-se uma gande transformação na nossa ideia de um fundamento natural para o prazer. Até há vinte, trinta anos atrás, achavamos que este tinha que ver com as relações biológicas naturais, e o que se lhe escapava era o alucinigénio, as drogas ou o desviante.” A palavra que me intrigou mais neste excerto foi “relações” e não no contexto em que se encontra mas sim no sentido bruto da palavra. Quase todas as pessoas associam felicidade ao ter relações quer seja de cariz amoroso ou de amizade, pois eu não. Sem querer ser rude não são as pessoas reais de carne e osso que me fazem feliz tirando a pessoa que já falei aqui, mas sim as pessoas que vejo nos meus filmes de eleição, como no Feiticeiro de Oz, onde adoro o espantalho e o homem de lata. Adoro as suas personalidades e só o lembrar-me da minha fala favorita desse filme me faz estampar um sorriso na cara: “Fecha os olhos e bate os calcanhares um no outro três vezes, e pensa para ti mesma: Não há sitio como a nossa casa…”. Isso sim para mim é felicidade, poderia dar mais exemplos dessas pessoas que na realidade não existem mas não acredito que acabasse ainda hoje. Existem também outras coisas claro, hoje, por exemplo, enquanto estava a andar de autocarro, reparei no quão verde a relva estava e por ser um verde tão luminoso ao longe quase que parecia apenas luz, são essas coisas que as pessoas não dão valor que para mim são sinónimo de felicidade e não as tais relações. Infelizmente as pessoas deprimem-me mas também reconheço a minha ousadia ao dizer isto pois se agora o mundo desaparecesse menos eu acho que não seria um bom filme de se ver. Não sei se tenho tido azar ou se é mesmo assim mas aos 17 anos e particularmente desde há um ano para cá que tenho sentido esta coisa a crescer, este cansaço de pessoas que não me inspiram, que não me tocam, que não mudam nada no mundo. Não estou a dizer que eu faça essas coisas todas que exigo dos outros pois isso não seria verdade mas talvez seja esse o meu problema, exigir de mais. Para mim o estar rodeada de pessoas com quem me “rio” não significa o que transparece, até porque quando faço uma avaliação para mim mesma das coisas que oiço é que vejo o horror que é a sociedade. Eu assusto-me de já pensar assim com esta tenra idade, e sei que esta revolta me faz mal, e daí o meu feitio terrível, mas não o posso evitar, se o fizesse não seria eu. Esta é outra palavra que não me entra na cabeça… quando oiço alguém a gesticular e a contar as suas histórias e diz “Eu…” vejo-me a pensar: Mas quem és tu? E não percebo a necessidade que as pessoas têm de se distingir umas das outras, umas mais do que outras, como já tenho visto. É ridícula esta obcessão do “não me imites” quando isso apenas é uma farsa para com todos os outros. Todos absorvemos coisas das pessoas que nos rodeiam, quer seja a sua maneira de pensar, a sua maneira de vestir ou outras coisas, e é isso que nos faz crescer, não é o “vou ser diferente de todos para as pessoas pensarem qe eu sou alguém importante ou que sou muito crescida/o”. Daqui retiro a questão que mais me enfurece… que se baseia em moralidades, a meu ver ninguém tem moral para criticar o que quer que seja se já fez o mesmo embora não o admita ou “não se lembre”. Outra coisa é a memória de certos cérebros que só existe quando há algo de que se necessite, que engraçado que é ouvir as pessoas a mudarem de discurso quando se lembram que se calhar precisam de mim... Admiro mais os que continuam a achar-me indiferente e me mostram isso mesmo quando me pedem alguma coisa do que aqueles que se lembram de palavras queridas que existem para esses momentos oportunos. Preocupem-se mais em fazer uma introspecção que é o que nos falta essencialmente. Portanto respondendo ao artigo da Vogue, para mim a felicidade existe, existe na medida em que nós mesmos tenhamos a capacidade de nos proporcionar esses momentos felizes a partir do que quer que seja, duma escolha qualquer, mas a felicidade não é algo que dure para sempre sem intervalos de sofrimento, pois se não sofressemos nem saberíamos o significado de ser feliz. Felicito aqueles que conseguem encontrar felicidade apenas ao olhar para o lado, ou seja, quando querem e como querem, pois isso para mim seria A conquista.

2 comentários:

  1. Gostei muito desta tua reflexão, Vera. Quanto à aceitação e à paz... tens tempo. Há um tempo para tudo, e à medida que te fores conhecendo (que fores conhecendo as pessoas... é o mesmo... .-) ) perceberás (acho que tu já sabes...) o verso de Pessoa: "é em nós que está tudo".

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  2. Gostei muito deste post :)
    Concordo com muitas coisas e até me identifico com algumas. Gostei sobretudo da frontalidade e da honestidade com que escreveste.
    Mas, se me permites a opinião, as relações podem trazer felicidade. Aquelas relações especiais (e com isto não me refiro a relações amorosas), que te fazem sorrir e pensar: 'Tenho mesmo sorte'.
    São relações que eu considero íntimas, não fisicamente, mas sentimentalmente. Normalmente são aquelas que, mesmo com a distância, com a falta de tempo e com vidas incompatíveis, continuam intactas. Transcendem o material.
    Acho que a felicidade reside nas pequenas coisas e podemos encontrá-la com mais facilidade do que julgamos. Tu enumeraste a tua fala favorita do filme O Feiticeiro de Oz e a relva verde :) Há muito mais! Basta estarmos abertos a recebê-la. Infelizmente penso que para nós, ocidentais, esse processo é mais difícil, porque andamos demasiado ocupados com trabalho, horários, compras, vendas, etc.
    Não paramos para ver, para pensar e para sentir.
    Não me alongo mais. Gostei mesmo muito do que escreveste e até consegui ouvir a tua voz na minha cabeça a ler o texto. É incontestávelmente teu.
    Madalena

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