quinta-feira, 14 de maio de 2009

Veracidade deste memorial

Quando li este livro a primeira coisa que me chamou a atenção foi o existir de uma personagem tão peculiar como Blimunda. Peculiaridade vista através desse nome tão invulgar mas principalmente pelos poderes que a caracterizavam. De onde teriam inventado esses poderes? Porquê sequer a presença de poderes numa história como esta? Estas eram algumas das perguntas que eu fazia até que decidi começar a procurar o porquê desta mulher. Deparei-me com artigos sobre a importânica do sexo feminino nas obras de Saramago e como as mulheres poderiam ser tão fortes como os homens ou tão fracas como há quem as caracterize. Um bom exemplo disso seria a diferença entre Blimunda e a rainha D. Maria Ana de Áustria. Esta primeira é caracterizada como uma enorme força de vontade, uma mulher incapaz de desistir dos seus objectivos. Qualidades que confirmamos com o contruir da passarola, o súbito adoecer devido à recolha das duas mil vontades e ao assistir da condenação da sua mãe. No entanto a rainha é representada como uma mulher submissa que não parece saber o significado de impôr-se. O mais engraçado para mim será talvez a ironia da classe das personagens e da sua caracterização. A meu ver veria mais facilmente uma rainha a ter as características de Blimunda e uma mulher do povo que sofre dos males da altura a ser como a rainha.
No decorrer da minha pesquisa encontrei vários documentos que falavam sobre a existência de uma mulher "anormal" que tinha poderes.

"Esta rapariga, motivo de assombro para quem a conhece (...) possui desde a mais tenra idade o dom de ver o interior do corpo humano bem como as entranhas da terra. Aparentemente os seus olhos são como os do comum dos mortais, apenas muito grandes e verdadeiramente belos (...) A sua vista penetra a terra no lugar onde há nascentes que ela descobre a uma profundidade de trinta ou quarenta braças, sem recurso de vara; diz com precisão o curso da água, a profundidade a que se encontra a nascente e distingue as cores e a variedade das camadas de terra que existem sob a superfície. Este dom maravilhoso só o usufrui quando está em jejum."

Anónimo, «Descrição da cidade de Lisboa», in O Portugal de D. João V visto por três forasteiros.

"Confesso que não me atrevo a explicar o dom que ela possuía de ver o corpo humano, bem como o dos animais, por dentro e outrossim o interior da terra a uma grande profundidade (...) Não era possível duvidar da faculdade desta mulher a descobrir as águas subterrâneas."

Charles Fréderic de Merveilleux, «Memórias intrutivas sobre Portugal», in O Portugal de D. João V visto por três forasteiros.

Estes relatos fazem me então pensar na existência da loucura de quem os escreveu ou no fenómeno que foi esta mulher. Mais uma vez a partir desta informação, Saramago conseguiu contruir uma história digna de filme ao misturar o romance, o convento, o sonho, a morte e os poderes num só livro.

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